Para começar, situamos no imaginário e na memória o território São João - sempre Minas - Del-Rei. Minas Gerais, universo tão bem percebido por Adélia Prado no texto a seguir (Agenda CAIXA 2009, 25ª semana).
Minas, tantas há por aqui, subterrâneas ou à flor da pele, que bem foi achado apelidá-las Gerais. Minas Gerais, quase meio triste em seu muito silêncio, vezo de melancolia, macambuzeira, mofina, quase alegre de ipês no seu agosto amarelo. Tão contida chora o alegre, tão contida canta o triste, dança como alforriada, o sapateado é sério, pedindo sempre licença, tirando sempre o chapéu, cheios de curvas os casos, os entre parênteses finórios, contam pecados barrocos e santidades extáticas se rindo pra dentro, mais esperta que o resto que sobrou do mundo.
Que boa fatalidade ser herdeiro de Minas, ter por riqueza seus bois, poeira, cerrados, oratórios, rezas, violas prazerosamente tristes, seu luto aliviado de quaresmeiras, tudo o que é lamentoso e bonito e gasta muito tempo para se fazer, doces, namoros, olhares, promessa de festa no corpo e eternidade na alma, montanhas, luares, amanheceres sobre picos com muita e densa neblina, frios.
Estou inventando Minas? Certamente, mas tudo é mesmo inventado. E isto é Minas também!
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